Um mini-curso de Teatro de Bonecos para Professores
PorRafael Sol
O minicurso foi dividido em dois blocos, com duração de três horas cada um. Para melhor organização didática, se traz a proposta do Manual de Criatividades, de Dourado e Millet (2006), através da qual a oficina é dividida em fases, a saber: Liberação, Sensibilização e, por fim, a Produção.
Num primeiro momento, na Liberação – que tem como propósito relaxar, aproximar, alongar, etc –, iniciei com uma dinâmica de integração, a fim de que a turma pudesse se apresentar e todos pudessem conhecer todo mundo. Em seguida, exibimos um panorama histórico do teatro de bonecos, mostrando desde quando ele surgiu (com registros desde a pré-história), suas características e sua evolução. Neste instante, dediquei um tempo para mostrar algumas técnicas usadas na confecção (a exemplo dos bonecos de marionete ou de fio, bonecos de vara, dos bonecos de fantoches) e o modo de manipulação (direta, indireta, mecânica), bem como a inclusão do teatro de sombras como categoria de teatro de bonecos.
Este momento foi importante para a percepção dos participantes acerca do embasamento teórico, conhecer as técnicas de construção e manipulação e toda sua complexidade e, principalmente, para saber que esta arte sofreu diversas alterações ao longo de sua existência. Esta apresentação teórica foi fundamental, conforme nos revelou um dos participantes, ao final do curso: “Não sabia que o teatro de bonecos tinha uma história tão complexa”. Após esta iniciação à arte do teatro de bonecos, ainda no primeiro bloco, fizemos mais algumas atividades lúdicas com vistas à sensibilização e, no final deste bloco, propusemos à turma que fizessem um boneco bem simples, especialmente para quem pretende trabalhar com as crianças a importância da alimentação saudável, bem como o prazer em construir um brinquedo que mais tarde pode ser ingerido: é o boneco de frutas (ou verduras).
Para a construção deste boneco, separei diversos elementos que poderiam ser usados na confecção do boneco, como olhos plásticos, cabelo previamente construído com linha de lã, bocas de plástico, pilotos coloridos com tinta permanente para marcação em cd, tecidos estampados, feltros coloridos, tesouras, pistola de cola quente e bastão para cola quente, dentre outros materiais. O recursos foram disponibilizados para que eles construíssem seus bonecos de acordo com sua criatividade e interesse. O segundo bloco foi iniciado com uma contação de histórias, utilizando o Teatro de Sombras como meio para a contação. Para isso, um recurso muito escasso – para muitos, ultrapassado – foi utilizado: o retroprojetor. Apesar de ser um elemento sem prestígio pela maioria dos entusiastas da tecnologia, já que temos os projetores multimídias para os substituir, os retroprojetores são equipamentos muito úteis quando se deseja apresentar teatro de sombras. A partir daí, partimos para a construção do boneco de fantoche, que usa como base para a cabeça uma garrafa PET pequena. Expliquei que pode-se usar diversos materiais e técnicas para cobrir a garrafa e fazer a base para a “pele” do boneco, tais como a papietagem (técnica antiga para construção de máscara, que usa papel rasgado umedecido em partes iguais de cola e água), o papel machê (papel umedecido, picado e batido em liquidificador) ou o uso de tinta diretamente sobre a garrafa. Mas, para o nosso boneco, usamos meia para artesanato, comprada em lojas próprias para este fim e que dão um bom acabamento estético aos bonecos. Para ornar as obras usamos os mesmos materiais da oficina anterior, com a diferença de que, neste, por ser fantoche, levei prontos os “corpos” ou as bases para as roupas dos bonecos. São, na verdade, simples moldes de came ou TNT (tecido-não-tecido) cortados em forma de vestido, devendo caber, com folga, as mãos de quem manipulará o boneco. Além disso, é preciso observar para que o boneco tenha “pescoço”. No molde, deve se preocupar em colocar a boca da garrafa PET no pescoço, fazendo assim uma junção dos dois. A boca do boneco pode servir para encaixar no dedo indicador do manipulador, o que garantirá mais segurança durante a manipulação. Os participantes puderam usar os diversos materiais, que incluiam tecidos estampados e pequenos pedaços de emborrachado em formatos variados. No mais, é só soltar a imaginação e dar asas à criatividade.
Interseção entre Teatro e Educação A proposta de trazer os bonecos para o municurso é que, durante a formação em Licenciatura em Pedagogia, os estudantes se deparam com a necessidade de contar histórias e usar alguns recursos. Além disso, especialmente o boneco de frutas, pode e deve ser feito com as – e pelas – crianças. Nesse sentido, além de fomentar apresentarmos às crianças histórias da literatura infantil, podemos ampliar os sentidos dados a essas histórias através da criação artística e estética de bonecos. Considerações finais Acredito que a formação de professores de Educação Infantil e das Séries Iniciais do Ensino Fundamental ainda tem como enfoque principal a teoria. Não obstante, sabendo da necessidade de utilizar a ludicidade em sala de aula, ações de extensão e de formação como este minicurso são de fundamental importância para a garantia do fortalecimento a qualidade da educação escolar, já que os docentes terão à sua disposição ferramentas e recursos valiosos para a consolidação de sua prática pedagógica. Fica, por fim, um chamamento para os cursos de formação de professores: investir em atividades de natureza prática, em consonância com as teorias estudadas, é, sem dúvida, um estímulo à formação mais sólida e a teoria será concretizada com mais substância.
Referências BOAL, Augusto. Jogos para atores e não-atores. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
